Florianópolis - Na segunda-feira (18) no Teatro Pedro Ivo Campos, no Centro Administrativo do Governo do Estado de Santa Catarina, foi realizada a solenidade de formatura de 202 novos policiais pela Academia da Polícia Civil (Acadepol).
|
Governador Raimundo Colombo |
O evento contou com a presença de diversas autoridades, incluindo o Governador do Estado Raimundo Colombo, o Secretário de Segurança Pública e Defesa do Cidadão, César Augusto Grubba e a Vereadora Susi Bellini de Itajaí também esteve presente. “Fico muito feliz e honrada em poder fazer parte deste dia tão especial e ver nos olhos de cada um dos formandos a vontade e garra pra fazer acontecer. Parabéns a todos” diz Susi.
A distribuição nas carreiras dos policiais fica em 106 Agentes de Polícia Civil, 28 Escrivães de Polícia Civil e 68 Delegados de Polícia Civil, tendo até quinze dias da formatura para integrar a equipe para qual Delegacia foram lotados.
Com a autorização do Delegado de Polícia Antônio Márcio Campos Neves, nomeado Paraninfo de turma, segue na íntegra seu discurso “A cerimônia foi muito bonita e os discursos enfatizando a ética foram emocionantes, mas este me cativou, gostaria de compartilhar com todos para podermos refletir” comenta Susi Bellini.
|
Teatro Pedro Ivo Campos - Florianópolis/SC |
"Excelentíssimo Senhor Governador, Raimundo Colombo,
Excelentíssimo Sr. Séc. de Segurança Pública, Dr. Cezar Gruba,
Ilustríssimo Sr. Del. Geral de Polícia Civil, Dr. Aldo Pinheiro D’Ávila,
Senhor Diretor da Academia de Polícia do Estado de Santa Catarina, Dr. José Airton Stang, pessoa que eu tenho o mais profundo respeito e admiração, pois sei que é um homem profundamente apaixonado pela Policia Civil.
Senhores professores,
Senhores Policiais Civis,
Senhores Pais,
Senhoras e senhores,
Queridos formandos e formandas,
Meu cordial boa noite a todos.
Primeiramente, gostaria de agradecer a oportunidade e dizer que hoje, profissionalmente, eu me sinto uma pessoa melhor e mais feliz. Ser alçado pelos alunos, razão de existir de um estabelecimento de ensino, à condição de Paraninfo de todas as turmas que se formam na ACADEPOL é motivo de muito orgulho, principalmente porque sei da qualidade de muitos outros professores que lá trabalham.
A palavra paraninfo é de origem grega e quer dizer Padrinho. Segundo o protocolo, o discurso do paraninfo é como se fosse a última lição para os alunos que se formam.
Por esta razão, peço licença para me dirigir, nesse momento, aos formandos e formandas, com os quais tive o privilégio de poder trabalhar a disciplina de Legislação Especial e passar um pouco de conhecimento e de minha experiência policial na área de Violência Familiar e Juvenil, mesmo com pouco tempo de carreira (dois anos como Delegado de Polícia).
Lembro que falava em sala que a minha contribuição era no sentido de formar policiais e não pessoas. Os senhores já vieram formados de casa por suas famílias, cada um com seus valores morais, com seus princípios, com sua religião, mas a academia os formou policiais. E todos os professores tiveram participação nisso.
Como os senhores sabem, eu fazia questão de falar em sala de aula: Sou colega de vocês em todos os sentidos! De concurso público, inclusive. Agora, mais ainda! Chegou a tão sonhada formatura e cada um é, neste momento, formal e substancialmente, policial. Agora são, sem qualquer tipo de distinção, meus colegas!
O momento é de alegria e de comemoração. Há dois anos e pouco estava eu nesse mesmo auditório comemorando a minha formatura. Sei que o curso de formação é puxado e exige de todos muito esforço e, por vezes, paciência. E é por isso que nesse momento reina a sensação de vitória, de mais um dever cumprido. Mas acima de tudo, o que ocorre nesse momento é o encerramento de um ciclo e o começo outro. A vida é assim.
Mas eu quero fazer um pouco diferente. Ao invés de palavras somente de comemoração e alegria, eu quero aproveitar essa oportunidade, que encaro como se fosse a largada de uma corrida, e fazer brotar em cada um dos senhores um pouco inquietude no coração. A atividade policial lida com os três bens mais importantes de um cidadão: A vida, a liberdade e o patrimônio. Só por isso já percebemos que nada em segurança pública é brincadeira.
A demanda é grande. A população catarinense clama por segurança. Os atos violentos precisam ser prontamente respondidos pelo braço forte do Estado. Sempre visando proteger a vida e respeitando de forma incondicional a legislação vigente, cada um dos senhores precisa agir rápido e com eficiência. Os senhores serão cobrados por isso. A cobrança vai vir da população, da mídia, da chefia, do governo, de todos os lados.
Quando se fala em violência logo imaginamos homicídios, roubos, seqüestros, estupros etc. Aliás, o governo brasileiro mede, equivocadamente, a violência pelo número de homicídios ocorridos durante um ano. Como se violência fosse apenas isso. Esses atos precisam ser respondidos à altura, sim, não há dúvida, mas quero aqui falar de outro tipo de violência. Dessa violência que muitas vezes passa despercebida e que os senhores, que todos nós devemos combater, ao meu ver, de forma prioritária. Refiro-me à violência silenciosa chamada “corrupção”.
O problema da criminalidade no Brasil é causado principalmente por dois fatores: A corrupção e a desigualdade social. A corrupção é o pior deles. Ela impede que a desigualdade social diminua e, por isso, muitas vezes, estamos “enxugando gelo”, combatendo somente a dor e não a doença. É só vocês lembrarem daquelas políticas assistencialistas desenfreadas que são apenas paliativo, pois “vivem dando” o peixe para o cidadão e não o ensina pescar.
O corrupto é um “genocida”! Cada pessoa que morre nos corredores dos hospitais por esse Brasil afora, por falta de médicos, de funcionários, de um leito ou de um medicamento essencial, o responsável por essa morte é o corrupto. Foi ele quem matou aquele cidadão de bem, aquele contribuinte que deveria ter sido tratado com respeito.
A população brasileira não aguenta mais tanta corrupção, mandos e desmandos de pessoas desonestas que, sob o manto de estarem agindo em nome do poder público, agem, única e exclusivamente, visando proveitos próprios ou de terceiros inescrupulosos. Como dizia a minha mãe: “Tem gente que nasceu primeiro que dinheiro!”
O jogo do bicho, exploração de jogos de azar, exploração sexual, corrupção passiva, tráfico de influência, advocacia adminstrativa, superfaturamento de obras e serviços, fraudes em licitação, e outros. Isso, sim, causa a destruição de nosso país. O Brasil tem potencial para ser o melhor país do mundo para se viver. Santa Catarina, como todos nós sabemos, é o melhor estado do país, mas tem potencial para ser ainda mais se combatermos a corrupção e fiscalizarmos o manejo do dinheiro público.
O problema causado pelo “Zé das Couves”, que furta galinha do quintal alheio, é infinitamente inferior do que aquele causado pelo corrupto. Quando me refiro ao corrupto, eu falo de forma geral, como sendo todo aquele que burla a lei para se enriquecer ilicitamente, e estes estão em toda parte. São políticos, empreiteiros, empresários e também o funcionário público, inclusive o policialolsa ser sufocadante um ano. , equivocadamente, a violiaisle fez. te do Estado. a esse tipo de ocasiao,.
O funcionário público é peça fundamental nesse tipo de organização criminosa. Por isso, volto a repetir para vocês aquilo que não cansava de falar em sala de aula:
“Cultivem sem parar a maior virtude que um ser humano policial deve ter: A honestidade.” Sejam honestos acima de tudo, respeitem a legislação e a vida alheia.
Vocês se lembram, cansei de afirmar: “Não existe Policial bandido!”
Vou repetir para não deixar dúvidas, pois pode ter alguém achando que o paraninfo ficou “louco”. “Não existe policial bandido!” O que existe é bandido “travestido”, disfarçado de policial! E você, meu querido aluno, não pode ser um desses.
O direito penal moderno é o direito penal do fato do autor e não do autor do fato. Não nos interessa quem praticou o crime, se ele é rico, famoso, político, juiz, promotor, delegado, etc. Nos interessa saber o que ele fez para, então, podermos responsabilizá-lo. Doa a quem doer. “Todos, eu disse todos, sem exceção”, devem respeitar as leis. Não existe um cidadão sequer acima da lei.
Quero deixar essa inquietação no coração dos senhores. Combatam a criminalidade em toda sua inteireza, mas a corrupção precisa ser sufocada. Ela é o câncer do nosso País.
Esperamos dos senhores muito trabalho. A demanda é grande e o cidadão catarinense está esperando pelos senhores. Seus colegas estão espalhados pelo estado a fora esperando ansiosamente pela sua chegada.
Respeitem a vida, ajam de acordo com a lei, protejam as famílias e honrem seus pais e sua instituição que é a Polícia Civil do Estado de Santa Catarina. Sejam honestos com vocês mesmos. Durmam com a cabeça tranqüila no travesseiro, com a sensação de ter cumprido com o seu dever e de ter dado o seu melhor.
Termino minhas palavras parafraseando o homem que fez história porque não se calou diante das injustiças de sua época. Ele foi o homem mais jovem a receber o Prêmio Nobel da Paz (1964)."
“O QUE ME PREOCUPA NÃO É O GRITO DOS MAUS. É O SILÊNCIO DOS BONS"
Martin Luther King
Antonio Márcio Campos Neves
Delegado de Polícia
Professor de Legislação Especial da ACADEPOL/SC